domingo, 16 de julho de 2017

Governo dos Outros

A distância entre o povo e seus governantes define a validade do regime. Será?
É uma questão, basicamente, de números.
Percebamos primeiro, que as elites -até por sua definição teórica- são minoria, se comparadas com as outras "classes" que formam o conjunto da sociedade. Afinal entenderemos, que a menor minoria é a dos poderosos.
Se tens pares, não és poderoso o suficiente.
Corolário simples e óbvio.

Que as massas do povo, se submetam passivamente aos abusos, muitas vezes sejam coniventes, e até mesmo agentes dos tais absurdos, demonstra anuência quase atávica à situação. Como se, ao participar assim deste modo, estivessem (eles) imunes aos efeitos de abusos e desmandos.
E, mais ainda, imbuídos por semelhança, do poder dos governantes. A sra. Arendt discorreu historicamente sobre isto.


Essa sensação de poder é, como cartão de crédito, pessoal, intransferível e... temporária. Por isso se torna necessário, como nas drogas viciantes, voltar a exercê-lo para estar satisfeito.
A empatia, que nos tornaria igual ao nosso semelhante, e serviria de freio, vai desaparecer com o exercício dessa malade.

E, a consciência de que esse poder é, temporariamente exercido em nome de outros, se esvai e confunde. Ela não capacita ninguém, nem outorga dimensões diferentes de modo algum.
O executor as possui enquanto as executa. Uma vez que cesse, voltará, imediatamente, ao rol dos míseros mortais, junto com todos os (nós)outros.


Por quê de toda esta introdução?

Porque desde o resultado do último pleito eleitoral temos sido objeto e alvo, como povo e país, da mais sórdida e inescrupulosa movimentação político-econômica como jamais se tenha visto na história republicana.

Sórdida e inescrupulosa porque, para alcançar seus fins lança mão de todos os meios possíveis independente de ser legal, justo, ético ou (Deus-os-livre) moral. Numa distopia tropical. Um carnaval de desfaçatezes como nunca antes visto!
Verdadeiro Festival do Primeiro-Eu, enquanto nós, o resto do povo, ficamos às voltas com crises econômicas (que não existem), desemprego (que ninguém vê) e violências de toda sorte (beirando uma guerra civil).
Uma (qualquer) mentira, repetida milhares de vezes... continuará sendo mentira.
Não se engane..
E alguns insistem em não ver.

O que fora uma ameaça bufa do candidato derrotado, se transformou silenciosa e rapidamente, em movimento que, ignorando a opinião democraticamente expressa em votos, alijou do processo todo o povo brasileiro. Claro que houve manifestações e passeatas e panelaços, quebra-quebras e gritarias. Mas toda essa movimentação déco de patos e amarelos e panelas, foi matematicamente coreografada pela mídia desinformadora e partidos políticos interessados.
Convenceram uma minoria de prosélitos aloprados, os vestiram de reis e os disfarçaram de maioria ululante.
O demônio era um partido, não o mal em si!


Os três poderes, base da democracia, hoje se digladiam amistosamente num afã autofágico. O povo foi lançado centrifugamente cada vez mais longe do "governo" que conseguiu o impeachment do(a) governo eleito(a). Primeiro, talvez até por causa do gênero, como antes também acontecera noutro experimento neoliberal.

E ainda somos invadidos diariamente em nossas casas, assaltados nas ruas e nos deslocamentos diários, pela cantilena hipno-nauseante de que "Estamos no melhor dos mundos. O mal já foi erradicado. Isto é só um rescaldo. Não renunciarei jamais!", enquanto o caleidoscópio gira cada vez mais e mais rápido.

A Rainha de Copas, de outra história que não escrevi, pareceria uma devota tímida se comparada aos sicários de gravata, que aparecem sorridentes na televisão.


Ficamos tão entretidos e sequestrados apontando culpados que, nem sequer imaginamos, gastar esse tempo em experimentar soluções.
Até agora vimos mais do mesmo.


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